quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A Sutileza da Dor

Era final do mês de agosto do ano de 2009. Estávamos no campo, numa aula prática dum curso de fotografia. Em pequenos grupos escolhíamos o melhor ângulo, o melhor foco de luz, a melhor condição de mostrar o nosso talento fotográfico. A viagem foi alegre e descontraída, afinal havíamos saído da rotina para um contato com a mãe natureza. Tagarelávamos encantados com a beleza do lugar.
De repente, no voo rasante do maribondo, senti a doçura da dor na picada do atroz! E para que ficasse mais intensa a prova de amor entre a natureza e eu, fui acariciada pela folha da urtiga, deixando marcas em meu corpo do seu aveludado pêlo. Instantaneamente, as partes tocadas mostraram-se evidentes, pois a pele intumescida e ardente pôs-se à mostra. Mas a minha alma cantava a dor, uma vez que me senti mais viva quando vi a brancura da minha cútis contrastando com o vermelho (que simboliza o amor) deixado pelo contato daquela folha velutínea e o ferrão do maribondo (retirado), após a penetração na minha pele.
Por que mataria um ou destruiria o outro? Não... Não teria motivos para zangas com os dois! Sabe-se lá o que é, entre tantos, ter o privilégio de ser escolhida por dois bucólicos seres para ser repentinamente beijada por um (o maribondo) e sutilmente tocada por outro (a urtiga)!
Acreditem! Juntos, naquele momento, sacudiram-me para o pulsar da vida. Fizeram-me perceber que temos sentimentos diversos em relação aos vários tipos de contato que os momentos nos proporcionam inesperadamente.
Quero que saibam, que mesmo vocês estando entre as cinzas não os esquecerei jamais. O nosso repentino encontro me fez descobrir que a alegria e a dor, assim como o amor, não escolhemos o momento de senti-los. Na maioria das vezes eles nos encontram e se apoderam do nosso ser. Somos arrebatados para o caminho predestinado seguindo cegamente a luz, que de tão brilhante não nos deixa ver o que está em nossa frente. Seguimos e pronto. Lá, o que nos resta é simplesmente viver! Talvez porque, na maioria das vezes, não conseguimos fugir do que foi reservado naturalmente pela vida.

Autora: Maria Aparecida de Farias.

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